terça-feira, 22 de setembro de 2009

MÃES SÓ MORREM QUANDO QUEREM - Cora Coralina ( desconheço o autor)


“Eu tinha 7 anos quando matei minha mãe pela primeira vez.
Eu não a queria junto a mim quando chegasse à escola em meu 1º dia de aula.

Eu me achava forte o suficiente para enfrentar os desafios que a nova vida iria me trazer.

Poucas semanas depois descobri aliviado que ela ainda estava lá, pronta para me defender não somente daqueles garotos brutamontes que me ameaçavam, como das dificuldades intransponíveis da tabuada.

Quando fiz 14 anos eu a matei novamente.

Não a queria me impondo regras ou limites, nem que me impedisse de viver a plenitude dos vôos juvenis.

Mas logo no primeiro porre eu felizmente a redescobri viva foi quando ela não só me curou da ressaca, como impediu que eu levasse uma vergonhosa surra de meu pai.

Aos 18 anos achei que mataria minha mãe definitivamente, sem chances para ressurreição.

Entrara na faculdade,iria morar em república, faria política estudantil, atividades em que a presença materna não cabia em nenhuma hipótese.

Ledo engano: quando me descobri confuso sobre qual rumo seguir voltei à casa materna, único espaço possível de guarida e compreensão.

Aos 23 anos me dei conta de que a morte materna era possível, apenas requeria lentidão…

Foi quando me casei, finquei bandeira de independência e segui viagem.
Mas bastou nascer a primeira filha para descobrir que o bicho mãe se transformara num espécime ainda mais vigoroso chamado avó.

Para quem ainda não viveu a experiência, avó é mãe em dose dupla…

Apesar de tudo continuei acreditando na tese da morte lenta e demorada, e aos poucos fui me sentindo mais distante e autônomo, mesmo que a intervalos regulares ela reaparecesse em minha vida desempenhando papéis importantes e únicos, papéis que somente ela poderia protagonizar…

Mas o final dessa história, ao contrário do que eu sempre imaginei, foi ela quem definiu:
quando menos esperava, ela decidiu morrer.
Assim, sem mais, nem menos, sem pedir licença ou permissão, sem data marcada ou ocasião para despedida.

Ela simplesmente se foi, deixando a lição que mães são para sempre.

Ao contrário do que sempre imaginei, são elas que decidem o quanto esta eternidade pode durar em vida, e o quanto fica relegado para o etéreo terreno da saudade..
Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,

Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:

Colo que acolhe,
Braço que envolve,

Palavra que conforta, silêncio que respeita,
Alegria que contagia, lágrima que corre,

Olhar que acaricia, desejo que sacia,

Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura…

Enquanto durar".

4 comentários:

  1. Lindo, profundo, comovente. Minha mãe é para mim o maior presente de Deus. Já cometi alguns erros, mas, como mãe, também posso afirmar que somos capazes de oferecer amor incondicional.
    Amo minha mãe e meu filho. São as coisa mais importantes que tenho.
    Bjs.
    Regina Goulart

    ResponderExcluir
  2. Ê Kyria, só você pra emocionar a gente assim e fazer pensar sobre algo tão importante, a mãe da gente. Lindo, profundo e desafiador!
    ;)

    ResponderExcluir
  3. Reflexivo seu texto...show!

    ResponderExcluir
  4. O aurorado texto chama-se ALEXANDRE PELEGI.
    O texto está no livro ACERTAR É HUMANO (2008, Editora Matrix)
    Favor dar o devido crédito, inclusive no POWER POINT.
    Aguardo resposta: a
    alepelegi@gmail.com
    Alexandre Pelegi, Sao Paulo

    ResponderExcluir

Obrigada por deixar o seu jeito.