domingo, 23 de agosto de 2009

UM BELO GESTO - Solidariedade não tem preço

Pat Dollard


Charles 'Charlie' Brown, de 21 anos, era um piloto de Boeing B-17 do 379º Grupo de Bombardeio, em Kimbolton, Inglaterra. Em 20 de dezembro de 1943 seu B-17, chamado 'Ye Olde Pub', estava em terrível estado, após ser atingido diversas vezes por flak e caças durante uma missão de bombardeio de uma fábrica em Bremen, na Alemanha. A bússola tinha sido atingida e eles estavam voando para dentro do território alemão, ao invés de voltar para Kimbolton. Sete dos seus tripulantes estavam feridos e ele próprio sangrava, com um estilhaço fincado no ombro.

Um piloto alemão chamado Franz Stigler teve ordens de decolar e derrubar o B-17. Quando se aproximou do quadrimotor, o alemão não pôde acreditar no que via. Em suas palavras, 'nunca tinha visto uma aeronave em estado tão ruim'. Da cauda e da sessão traseira do avião pouco restava. O artilheiro de cauda estava ferido. O artilheiro de dorso tinha seus restos espalhados pela fuselagem. O nariz estava esmagado e havia furos por toda parte.

Apesar de ter toda a carga de munição, Franz voou para o lado do B-17 e olhou para Charlie Brown, o piloto. Brown estava aterrorizado e lutando para controlar seu danificado e ensangüentado avião. Brown notou logo o caça de Stigler voando a seu lado. Mas, o alemão não atacou. Apenas olhava, impressionado com a visão daquele B-17 tão danificado que teimava em continuar voando. Brown o pilotava na esperança de que as coisas assim ficassem até atingir as costas da Inglaterra a 400 quilômetros dali. Só que, na direção inversa à que seguia.

Ainda parcialmente inconsciente, o tenente Brown começou uma lenta subida com somente um motor funcionando a pleno. Com três tripulantes seriamente feridos a bordo, ele rejeitava a alternativa do salto ou pouso forçado. A sua alternativa era a frágil chance de atingir a Inglaterra. Enquanto guiava o agonizante bombardeiro no que julgava ser o caminho de volta para casa, Brown via o Me 109 voando junto à sua asa.

Franz então percebeu que os americanos não tinham idéia para onde estavam indo. Já tinha decidido não atirar no grande bombardeiro ferido, e podia apenas dar meia volta e deixar que o piloto inimigo se perdesse no coração da Alemanha ou fosse abatido por outro caça da Luftwaffe. Mas não fez isto. Então, Franz balançou as asas do Messerschmitt para chamar a atenção de Charlie, indicando que virasse a 180 graus. Charlie obedeceu (fazer o que?) acreditando que seria conduzido a um aeródromo alemão para ser feito prisioneiro. Mas não foi o que aconteceu. Franz escoltou e guiou o bombardeiro ferido até sobre o Mar do Norte, na direção da Inglaterra. Então balançou as asas outra vez, saudou Charlie Brown e fez a volta, de volta ao continente.

Quando pousou, disse ao seu comandante que tinha derrubado o avião sobre o mar. Nunca contou a verdade a ninguém, mesmo depois da guerra. Brown e seus colegas expuseram toda a verdade no relatório, mas receberam ordens de não comentar o incidente com ninguém, para proteger o piloto alemão.

Mais de 40 anos depois, Charlie Brown ainda procurava o piloto da Luftwaffe que havia salvado sua tripulação. Como Franz nunca havia contado sobre o incidente, nem mesmo em reuniões no pós-guerra, a busca parecia destinada ao fracasso. Brown permaneceu na Força Aérea, servindo em diversos postos até aposentar-se em 1972, no posto de tenente-coronel, e mudar-se para Miami como gerente de uma empresa de pesquisa de combustíveis. Mas o episódio do alemão que se recusou a atacar um adversário ferido o perseguia.

Ele estava determinado a encontrar o piloto inimigo que tinha poupado sua tripulação. Escreveu numerosas cartas para fontes militares alemãs, com pouco sucesso. Finalmente, uma nota num jornal de ex-pilotos da Luftwaffe exibiu uma resposta de Franz Stigler, um ás de 28 vitórias aéreas. Ele, se descobriu, foi o anjo misericordioso nos céus da Alemanha naquele fatídico dia antes do natal de 1943.

Levou 46 anos, mas em uma reunião do 379º Grupo nos EUA, em 1989, eles e outros cinco tripulantes do B-17 se encontraram. Questionando, cuidadosamente, Stigler sobre detalhes, não restaram dúvidas sobre sua identidade. Stigler, após a guerra, emigrara para o Canadá e vivia perto de Vancouver, na Columbia Britânica. Após uma troca de cartas, Brown marcou a reunião. Sobre o primeiro encontro, o piloto americano contou: “Quase quebrei minhas costelas, ele me deu um grande abraço de urso”.

Os dois homens se visitaram com freqüência desde aquele dia, e apareceram juntos em eventos militares nos EUA e Canadá. No Air Force Ball de Miami, em 1995, os dois receberam honrarias.

Na primeira carta para Brown, Stigler escreveu: “Após todos esses anos, imagino o que aconteceu com o B-17, ele sobreviveu?” Sobreviveu, por pouco. Mas, queriam saber todos, por que o alemão não havia destruído sua presa, virtualmente indefesa? “Não tive coração para aniquilar aqueles bravos homens”, disse Stigler. “Voei ao lado deles por um longo tempo. Eles tentavam desesperadamente voltar para casa, e eu decidi ajudar a que o fizessem. Eu não podia ter atirado neles. Seria a mesma coisa que atirar num homem num pára-quedas”.

Franz Stigler faleceu no dia 22 de março de 2008, aos 92 anos de idade.


(Contribuição de Ney Gastal. Publicado originalmente no Blog Sala de Guerra.)


fonte: Newsletter Jayme Copstein

3 comentários:

  1. Linda história. Nos mostra que principios e virtudes se sobrepoe sobre ordens e desejos, principalmente se carregam o embrião da destruição. Vida longa à solidariedade, bjs!!

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  2. Adorei e meu marido está deitado aqui do meu lado e adorou também. beijos

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