Não há nada mais devastador para pais e mães do que ser colocados numa situação em que são obrigados a se perguntar o que houve para que aquele bebezinho fofo e sorridente se transformasse num adolescente ou jovem problemático. Muito provavelmente, é o que vem ocorrendo com os familiares do garoto de 13 anos acusado de praticar bullying (agressão física ou psicológica intencional e repetida) contra uma colega de sala.
Condenados, em primeira instância, a pagar uma indenização de R$ 8 mil à família da vítima, como informou ontem matéria assinada pelo repórter Paulo Henrique Lobato publicada na primeira página do caderno Gerais deste jornal, os pais do menino alegaram que foi dada uma “conotação exagerada e fantasiosa” sobre a relação entre o filho e a menina. O juiz encarregado até reconheceu que todos nós estivemos expostos a brincadeiras de mau gosto na juventude, mas afirmou que “há um limite que, se ultrapassado, pode gerar situações como a do caso dos alunos”.
É natural que os pais se recusem a admitir que seus filhos sejam capazes de torturar alguém psicologicamente, não só diante da Justiça, mas até para si mesmos. Inclusive porque, no fundo, não estão prontos para aceitar a possibilidade de que poderiam ter se empenhado mais na imposição de limites, ou ter sido menos rígidos, ou ter estado mais presentes na educação do garoto, ou em dar melhores exemplos a ele.
Há, no entanto, dois fatos incontestáveis que levam à conclusão de que tal posicionamento não é sensato. Em primeiro lugar, pais são seres humanos, logo imperfeitos e falíveis, mesmo quando dão o melhor de si; depois, o menino está realmente encrencado, seja qual tenha sido sua intenção na série de incidentes que levaram à sentença judicial, e precisa de ajuda. Em vez de tentar provar aos outros e a si mesmo que ele é um garoto do bem, quem sabe não seria mais racional e produtivo que se dedicassem a encontrar formas de “torcer o pepino” enquanto ainda é tempo? Estariam, assim, cumprindo o dever de zelar pelo futuro daquele por quem são responsáveis. Claro que têm, também, o direito de tentar provar à Justiça que as coisas não são bem como parecem ser. Só que esse não é o foco principal da questão.
Importante mesmo é entender o que faz com que o menino aja dessa maneira. Entre as causas mais frequentes para que uma criança ou jovem assuma esse tipo de comportamento, de acordo com o livro Proteja o seu filho do bullying: impeça que ele maltrate os colegas ou seja maltradado por eles, do professor americano Allan Beane, especialista no assunto (Editora BestSeller), estão, nesta ordem, a necessidade de poder e controle, a vontade de ferir o outro, a expressão de sentimentos de raiva, insegurança, solidão e “diversão”. Difícil escolher qual das possibilidades é mais assustadora.
De qualquer maneira, é positivo que o caso tenha sido acolhido como o foi pela Justiça. O alerta está dado: não há mais como minimizar a agressividade das crianças usando a velha justificativa de que elas são mesmo bem cruéis às vezes, sob pena de ter complicações com a lei. À medida que o recado for sendo captado pela sociedade, bullies e suas vítimas terão a atenção e a ajuda profissional de que necessitam e que merecem e, consequentemente, a chance de ultrapassar episódios dolorosos como esse sem traumas permanentes. (Sílvia Laporte, interina)
anna.marina@uai.com.br
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