Três leitoras e três realidades diferentes de se relacionar com o outro. A primeira, de 45 anos, envia-me e-mail para dizer que está cansada de viver sozinha, sem um companheiro, que, apesar de desejar ardentemente um amor, está cada dia mais só. O máximo que encontra são parceiros para uma noite de sexo, e adeus! Nada no dia seguinte, nada de companhia, de compartilhar uma vida a dois, alguém para ir ao cinema, a um restaurante, para ficar em casa sem fazer nada, mas com a certeza de que estão na mesma sintonia.
A leitora confessa que se cuida, gosta de andar perfumada, é sensível, trabalha e os dois filhos dela já encontraram o próprio caminho e alçaram voo. Ela sente falta do afeto de todo dia. Nem a companhia da cadela bichon frisé consegue espantar a solidão que entrou para dentro de sua casa e não quer sair mais. Por mais que ela se dedique ao trabalho, por mais que malhe, porque ela parou de fumar e não quer engordar, por mais que se apronte, por mais que trate dos dentes, do cabelo e do corpo, continua só, numa cidade como Belo Horizonte, onde mulheres livres, independentes e fortes não encontram um parceiro à altura.
A outra, de 59, envia e-mail para dizer que está apaixonada, que numa viagem a São Paulo encontrou alguém que está preenchendo sua vida por inteiro, que virou menina outra vez por causa desse novo encontro. Mesmo beirando os 60 anos, a leitora está parecendo uma adolescente. Vira e mexe, ela pensa na pessoa e estranha o sentimento renovado a essa altura da vida. E garante que a felicidade só existe quando é compartilhada, que percebeu como a vida é sem graça fazendo tudo sozinha. E conta também que recebe telefonemas pela manhã dizendo: “Acordei pensando em você!”.
A terceira leitora, de 35, ficou muito tempo sem uma relação duradoura, até que encontrou alguém que, de repente, devagar, sem avisar, foi entrando dentro do seu coração para ficar, mas que teve que abrir mão, porque ele foi para o exterior completar os estudos.
Ela está fazendo um diário para ele, conversa pela internet, os dois enviam textos e fotos um para o outro. E já em outro país, ele escreve para ela. “Olhando agora a perfeição da minha mala, posso afirmar que além do excesso de bagagem, tem um monte de você embarcando comigo. Como seria capaz de percorrer textos em idiomas estranhos, trabalhos sem fim em obras inacabadas e barulhentas, se não fosse pela certeza do sempre ali seu, para atender telefones e aguentar minhas agruras. Arrancar você da minha vida é como tirar o melhor de mim. É como arrancar o céu e as nuvens e deixar tudo ao vácuo”, ela lê enquanto chora profundamente a distância desse amor.
Três realidades diferentes, três mulheres que abriram ou querem abrir as portas para o amor. Conheço mulheres também que estão fechadas para outras pessoas. Como se a linha do telefone estivesse sempre ocupada, sem oportunidade para uma segunda chamada, porque ao longo da vida encontraram homens que só conseguem acordar o demônio que vive dentro delas e que dão nocaute nos anjos.
Essas mulheres preferem estar sós, porque foram vítimas dos desencontros do amor. Nem que o príncipe encantado bata na porta, elas abrem e ainda avisam. “Volte amanhã, porque hoje não dá.” Elas preferem tomar vinho sozinhas, investir em si mesmas, pois não consideram o homem como um capital. O melhor está nelas mesmas. E vivem bem, depois dos naufrágios e tempestades da paixão. Vivem em paz.
Conheço mulheres lindas que são a própria encarnação do sagrado feminino e que continuam sós. Conheço mulheres doces, mas fortes, mulheres que ardem, mas também estão sós e que se permitem permanecer sós. Por essas mulheres até o mundo se rende, principalmente para aquelas que mexem o caldeirão em busca da alquimia da vida. Por mulheres que escrevem, pintam, bordam, cozinham, trabalham, criam filhos sozinhas, compartilham da vida com outras amigas e com projetos comunitários. Por mulheres que têm luz própria e vestem saias enluaradas, que dançam ao som da música cigana e que têm os cabelos cor da terra, que embalam no colo a solidão do mundo. Por essas mulheres que vivem sós, mas gostam do pôr do sol, do barulho do mar nas conchas, que usam sapatos de salto no trabalho, mas vivem descalças em casa, desnudas e que sabem fazer um strip tease da alma, mas que continuam invisíveis aos olhos terrenos.
Fonte: Estado de Minas 18/04/2010
Oi amiga,obrigado pelo comentário,adoro seus blogs!!!!!Amei isso...lindo demais!!!!Bjs.
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirObrigada por sua visita e comentário.
Já estou te seguindo.
Bjo
Walkyria
ResponderExcluirObrigado pela visita,
e Parabéns pelos seus escritos.
Gosto muito dos textos que você escolhe.
ResponderExcluirO visual do blog está bonito, quando a gente abre ele fica todo vermelho e depois se abre em claridade, como que iluminado. A imagem na parte superior é muito bonita, combina com o nome do blog.
Lindo!
Bjs.