terça-feira, 13 de abril de 2010

MORTE E VIDA SEVERINA (trecho) - João Cabral de Melo Neto

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

3 comentários:

  1. Olá Kyria! Esse poema é impressionante, nunca li nada igual, de uma sensibilidade e uma fluência incríveis!!! Eu a-do-ro. Obrigada, post maravilhoso! Beijo grande

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  2. Oi Kyria! tudo bem com vc?
    como sempre postagem linda!
    grande bjk

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  3. Oi Kyria!!! Sempre que por aqui repouso, suspiro, leio e reflito. Obrigada por sempre sem assim amiga, um presente! Não esquecemos de nosso encontro aí em BH. Haroldo já me prometeu um passeio aí e me ajude a cobrá-lo, please? Sabe, ando um pouco preguiçosinha...
    Mas vim aqui pra dizer e rever seus textos e recordações na pausa do café, rsrs
    Mil beijos de uma mãe que esta perdendo os cabelos!!!
    Pri

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