Ela já nasceu com o direito de votar. Não teve que derrubar nenhuma barreira para entrar na universidade nem no mercado de trabalho. Nasceu tendo acesso à pílula anticoncepcional e dona do próprio corpo. Não precisa ser virgem para se casar ou se relacionar com outros parceiros. Nina Cerqueira Pimenta, de 26 anos, cientista social, define-se como uma pessoa livre, mas considera o Dia Internacional da Mulher, que será comemorado amanhã, 8 de março, pouco representativo para sua geração.
Certos gestos para homenagear as mulheres são considerados por Nina como supérfluos, como dar parabéns e botões de rosas nas esquinas. “Ninguém, no entanto, reflete sobre a data ou o papel da mulher de antes e de agora. Ninguém se preocupa com o que queremos conquistar ou quais são os desafios do futuro. Ninguém para um pouquinho para pensar que as mulheres da minha idade estão muito confusas, apesar de todas as vitórias”, desabafa.
Ela lembra que a sociedade brasileira ainda espera da mulher que seja esposa e mãe. “A mulher tem que ser feminina, bonita, corpo esguio, para se casar, ter filhos ou, então, virar macho, falar grosso, competir, derrubar, para conseguir um lugar de destaque na profissão. O feminismo no Brasil não se deu por um ideal. As mudanças foram acontecendo sem o verdadeiro sentido da luta por direitos”, explica.
Algumas mulheres da idade de Nina, inclusive, não sabem para que e por que comemorar uma data dedicada às mulheres. Muito menos que há 100 anos – 1910 – foi instituído o 8 de março como Dia Internacional das Mulher, para lembrar as operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova York, que fizeram uma grande greve por melhores condições de trabalho, mas foram reprimidas com violência. Elas foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada.
Para saber mais sobre essa data, o caderno Bem Viver ouviu a opinião de mulheres de outras gerações, que fizeram e fazem parte da história. Como Neuza Huebra de Souza Netto, de 84 anos, que se casou virgem aos 17 anos e 8 meses, se dedicou ao marido por 60 anos sem nunca ter olhado para outro homem. Ela nunca trabalhou fora e só conheceu a pílula anticoncepcional depois de ter seu quinto filho.
Como outras velhas combatentes de sua geração, a socióloga e escritora Rosiska Darcy de Oliveira, de 60, sabe muito bem o significado da data. “Eu era professora da PUC Rio, quando uma aluna pediu que um dia explicasse para ela o que foi esse negócio de feminismo.” Rosiska fez mais do que isso. Pediu à aluna que sentasse num bar com uma amiga para tomar um chope e que, nessa hora, fizessem um brinde a ela. “Estava com 19 anos, como você, quando eu e uma amiga saímos arrastadas das cadeiras para fora de um bar em Copacabana. Naquela época, duas mulheres sentadas num bar, sem uma companhia masculina, deveriam ser expulsas do estabelecimento.”
A antropóloga e escritora Mirian Goldenberg, de 54 anos, faz questão, nesta data, de lembrar Leila Diniz, símbolo da revolução comportamental dos anos 1960. Como Leila Diniz, Nina, de 26, Rosiska, de 60, Mirian, de 54, e Neuza, de 84, e ou- tras anônimas ajudaram e estão ajudando a construir a história das mulheres no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por deixar o seu jeito.