domingo, 18 de outubro de 2009

VOU ME EMBORA PRÁ PASÁRGADA - Manoel Bandeira

E por causa do post anterior eu...




... Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água.

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver triste mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

- Lá sou amigo do rei

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Um comentário:

  1. Belo poema. Eu e meus amigos, por vêzes, costumamos a nos despedir fazendo menção ao início deste poema, "Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei", quando nos casos de inconformismo salutar e bem humorado, seguido de esperanças por um dia melhor.

    Bjs.

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